Em 3D       Didáctica       Jogos       Mostras       Turismo




   Início > História > Terra Chá e Lugo

Desde a nascente do rio Minho, prestando interesse na navegação transversal, achamos na Casa da Azenha, em Santalha de Sisoi um dos primeiros lugares nos que se empregava a barca para salvar a corrente fluvial de cara a Taboi, sem cobrar pelo serviço aos que precisavam passar, além dos usuários do moinho de rodízio. Os barqueiros do Caneiro de Baixo do Barrera ou do Pedregoso, em Cela para comunicar com as ínsuas de Rábade, recebem dívidas por uma actividade ocasional em portos de entidade escassa.


Cubela, feche para amarrar as barcas. Desenho de Hixínio Flores


Atendendo ao trabalho de Orlando Viveiro e Hixínio Flores, quem estudaram o rio Minho desde Santalha-Taboi até Guilhar-Parada, temos as barcas de passagem de igual tipologia que as pequenas de uso particular, mas com dimensões maiores, condicionadas pelo emprego que davam à embarcação. Sinalam dois passos principais, situados no Porto de Santa Isabel e em Parada. Em Santa Isabel a passagem estava junto à capela do mesmo nome em Outeiro de Rei, onde se atravessava para Martul, com embarcações de três metros na dimensão menor -portando o carro com a parelha de bois-. Da barca de Parada, lembrada com dobre biqueira para facilitar a entrada e saída dos carros, recolhe o Catastro de La Ensenada de 1753 um registo que diz: "Também há duas barcas sobre o rio Minho que servem para passar e repassar gente de uma a outra parte de dito rio, que pertence uma delas a Froilán Rodríguez, vizinho de dita paroquia de Parada que cobra por cada pessoa que passa nela quatro maravedis, rendando-lhe ao ano cinquenta reais. A outra é de Simón da Pena da mesma vizindade, cobra o mesmo e renda-lhe o mesmo".


Igualmente presentavam tamanho considerável as barcas destinadas a sacar areia do rio, trabalho muito comum ainda no século XX. Com capacidade de transporte de um a dois e meio metros cúbicos, em uma embarcação de quatro metros de cumprimento por mais de dois de amplitude, pelo que precisavam do empuxo de dois barqueiros com rema ou vara. São lembrados alguns lugares onde se sacava areia: A Trabanca, Santa Isabel, Porto de Sanxilhao, Porto das Barcas em Parada (para a beira de Marcelhe)...


As dimensões das barcas de areia em Ombreiro eram de três metros de cumprimento por dois e meio de largo. Com estas embarcações passavam o carro às ilhas. Quando são de pequeno tamanho -a metade ou menos- mas igual tipologia, conhecem-se como batujos (referido muitas vezes como batuxos, nome que recebem só na área de Lugo, não na Terra Chá nem em Porto Marim, onde mantêm pequenas variantes nas formas), destinadas à pesca e a uso particular.


Em Lugo destacaram em actividade o Porto de Vilalvite e o Porto de Ribas de Minho. Em Vilalvite, freguesia de Coeses, no século XX houve três barcas de passagem, lembrando os maiores como pela feira de Santos de Adai passavam 150 cavalarias, além de muitas vacas. A carga máxima por embarcação era de 30 ou 40 pessoas, ou de quatro vacas -amarradas com argolas à par diante e atrás- e uma besta -atravessada na biqueira-. Deslocava-se com dois remos diante, e outro -vara com função de leme- atrás.


Na barca do Porto de Ribas de Minho em rio sossegado propulsava um só barqueiro, e dois com cheia. As datas de máxima actividade eram as feiras de Povoa de São Julião -dias 17 e 2-, O Páramo -10 e 20-, Adai -o 13, de cavalarias-, e Nadela -30 e 15 de cada mês-. Os vizinhos diferenciavam as embarcações pelo tamanho, assim eram barcos -em masculino, com tipologia de batuxo- os pequenos, e barcas -em feminino, de igual forma e dimensões maiores- as de passo.


Também se lembram a barca do Porto de Tosende, e as três embarcações de passo de Outeiro de Ferroi. E, seguindo o Minho, temos as barcas de passagem de Mota. Embarcações com base no Porto de Areia e no Porto de Rosende de Santandrea, comunicação para o moinho e para o gado, além dos carros. Com maior actividade os dias de feira em O Páramo e Povoa de São Julião. Desapareceram, hoje substituídas por uma ponte, nos começos do último terço do século XX, seguramente das derradeiras que prestaram serviço no rio Minho com tipologia tradicional.




© Fonte: Orlando Viveiro Veiga e Hixínio Flores Rivas, "O Património da Auga", em boletim Terra Chá, nº 6, Begonte, Fevereiro de 2001, pp. 3 a 11; e documentação própria de Barcas do Minho.



Os navegantes de Cela

Em Cela, paroquia de Outeiro de Rei, houve um cento de barcas de pesca até a metade do século XX. Cada fogar tinha, quando menos, uma embarcação. Praticavam a navegação longitudinal pelo primeiro fragmento do rio Minho, deslocando-se até Triabá -uns catorze quilómetros de cara à nascente- para capturar peixes que logo transportavam em cavalarias e em autos até a cidade de Lugo. Actividade que ia dos amadores à mestria em Cela, para um recurso quase desaparecido no rio Minho do nosso tempo. Também navegavam cara o Sul, participando em grande rivalidade com os de Ombreiro em regatas pelo São Froilão até os anos oitenta na cidade de Lugo.


É, pelo sinalado, na Terra Chá junto com o espaço que vai de Tui até a foz, os únicos lugares onde se desenvolveu a navegação em maior extensão e distância no rio Minho. Acto muito conhecido para a embocadura, mas ignorado até o presente para as proximidades das fontes que originam o pai dos nossos rios.


Rio Minho em Lugo, ano 1907



Barcas do Minho