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O rio Minho pela actual província de Ourense só podia ser passado pela Ponte Velha ou Maior -na cidade das Burgas, originariamente romana- muitas vezes arruinada pelo que era substituída por barcas de passagem, e a Ponte Castrelo -obra do século XIII, levantada segundo a tradição por S. Pedro González Telmo-, com períodos intransitáveis chegando a desaparecer no século XVI para ergue-la de novo a começos do XX. Palavras de esclarecimento são as de Olga Gallego: "...se prescindimos em Ourense do seu rio, da sua ponte e das suas barcas a sua historia ficaria fortemente mutilada e em grande medida sem explicação".
A Ponte Velha de Ourense em 1847, gravado do Semanario Pintoresco Español
Madeira, gado, pessoas e mercadorias diversas eram deslocadas pelo rio Minho. Na invasão do Duque de Lancaster do século XIII, nas guerras com Portugal, de Separação, do XVII, e de Sucessão do XVIII, na guerra da Independência contra os franceses e na luta contra os Carlistas do XIX, foram controlados os portos fluviais, ao igual que em tempo de peste em que era proibida a circulação.
Ademais do barco de dornas -de duplo casco, usado para a pesca-, as tipologias das barcas de passagem foram rectangulares -com formas que persistem na Ribeira Sacra, que conhecemos como barca de Chantada-. De maior tamanho temos a de Ourense (6 por 13 varas em 1578) e Barbantes (4,99 por 9,15 metros em 1832). Em memória de José Puga Alonso, a derradeira barca de Ribadávia, construída em 1953, tinha 9 metros de cumprimento por 4,30 de largo, com remos de 10 metros -com um cubo granítico de contrapeso- situados em diagonal, e com capacidade para dois carros com quatro bois, oito cavalarias e uma vintena de pessoas. Quando portava madeira de pinheiro, carregava até dois camiões.
Seguindo a Olga Gallego, com dados do Catastro de La Ensenada, a propriedade das barcas de passagem era um monopólio em poder dos senhores jurisdicionais, congregações monásticas como as de Ribas de Sil, Melom ou Cela Nova, e senhores como o Conde de Ribadávia, o Marquês de Malpica, o Conde de Fefinháns, além do emergente concelho de Ourense. Em rendimentos destacava no século XVIII a barca de Ribadávia, arrendada em 11.050 r., seguida da de Barbantes, em 8.387,5 r. Para a autora, as mais produtivas de toda Galiza.
Portos de barcas de passagem
Os lugares de passo, com informação recolhida por Olga Gallego, começam com a barca dos Peares, a que segue a barca de Beacam -documentada em 921, quando se funda o mosteiro de Ribas de Sil, comunicava com A Peroxa-. Pequenos portos foram A Costroia, Soalheira, Penalba ou Suacova, e S. Damiro. Também está demostrada a existência no ano 921 da barca da Silva, na embocadura do rio Barra, passagem entre S. Eusebio da Peroxa e Santa Maria de Melias. E entre S. Miguel de Melias e Santa Maria de Vilarinho temos a barca de Marnel, que em tempos chegou a cobrir as necessidades da cidade de Ourense.
Em Ourense ha dois portos. No Porto Velho, com base no final do rio Lonha e na ermida da Nossa Senhora, a embarcação era do bispo e do cabido da catedral, que logo passaram ao concelho. O Porto Auriense situa-se no contorno da Ponte Maior e capela dos Remédios. No Porto de Reza estava a barca do Lugar ou Lagar Queimado. No Porto de Santa Uxia deveu haver outra embarcação, e temos notas da barca de Freixendo, em Mugares que comunicava com Untes.
Continuando o rio Minho chegamos ao passo da barca de Barbantes, com grande entidade na historia. Deslocava-se desde o lugar da Barca ao de Feá, documentada já no ano 918, foi importante nas vias que levam a cidade de Ourense. Segue com a barca de Quelhepam -também conhecida como barca do Caneiro- de 11 metros de cumprimento, da qual conservamos a memória dos maiores, navegando de Puga a Laias com três homens em cada remo com cheia. A barca de Prado levava a Trasariz e a Sanim. Como as anteriores e as que seguem, tinha grande importância na movimentação do vinho do Ribeiro. Também em Castrelo havia serviço de barcas (Portamiro e Corvilhom).
A embarcação mais essencial do Minho e de maior consideração era a de Ribadávia, ou de Porto a Corbeira, passagem de Francelos a Reza, coutos propriedade do mosteiro de Melom. E seguem as barcas de Meréns ou do Miranzo, e a de Filgueira -que comunicava com Arnoia-, e outros barcos menores: de Pena, a barca de Portancho -em Valongo-, Sendelhe e Frieira.
© Fonte: Olga Gallego Domínguez, As barcas e os barcos de pasaxe da provincia de Ourense no Antigo Réxime, Ourense, 1999; e "Barcos e barcas no tramo ourensán do río Miño", em Raigame, nº 17, Ourense, Abril de 2003, pp. 48 a 58; além de documentação própria de Barcas do Minho.
[Podem ampliar informação com a Barca de Barbantes em Ourense]
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Um projecto dos ilustrados
Em tempos dos comprometidos ilustrados de ideologia liberal, Pedro Antonio Sánchez, na Representación al Inmortal Rey D. Carlos III sobre la navegación en el Miño, trata das possibilidades da circulação longitudinal -os passos até aqui vistos eram transversais, e só em distâncias muito curtas ao longo do rio-. Diz que o Minho era daquela navegável nas quatro primeiras léguas, até Tui, e que os catalães construíram dois barcos no Ribeiro e chegaram até ao mar, mas pelas dificuldades sofridas não repetiram a viagem. Preocupava dar saída aos vinhos do Ribeiro e da Ribeira Sacra, e também facilitar a entrada de produtos do estado -em competência com os portugueses- ao interior da Galiza. Argumenta que em Portugal, em rios de maiores dificuldades como o Douro, se levaram ao cabo projectos semelhantes.
Para rematar, dizer que não houve circulação desde o mar a terra adentro em época moderna, como também não parece acertado supor esta para períodos anteriores (abundam os relatos onde os romanos levam o vinho de Amândi pelo rio, pelo qual chega o sarcófago de Temes, e entram os navios dos normandos).
Barcos de dornas na cidade de Ourense
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