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   Início > Artes de pesca fluvial


A cana ou vara, usada desde terra ou desde uma barca, é um dos sistemas de pesca mais empregados nos rios galegos. Na ponta leva uma sedela com chumbo, cortiça -não sempre-, e um anzol, no que vai o engate (minhocas, moscas, saltões, plumas de pássaros, etc). A corda -espinhel ou palangre- ocupa o ancho do rio -pelo que devem empregar uma barca se este é largo-, com anzóis presos de tramo em tramo, sendo armadas pela noite e recolhidas à manhã. Uma arte singular é o manujo de vides, utilizado para capturar enguias, consistente em um molho de podas de sarmento untadas com sebo, situadas com cortiça e atadas com corda pela que se tira com rapidez desde a barca. Similar é o ratel ou cesta para o caranguejo.






A fisga, rancha, garrucha, chuço ou francado foi empregada para a pesca de lampreias, solhas, salmões e outros peixes semelhantes. Usada desde uma barca, vigiando a chegada do peixe, espetando com dentes de ferro que pode rematar em forma de lança. Ou também desde terra, de noite -acompanhados por um facho- para pescar salmão. Aros com redes, as ventelas, mangadas em longos paus foram utilizadas para pescar nos remansos, aproveitando o desove, botando-as às cegas e tirando o que a sorte queira. Além da tesoura dentada para as enguias, e a tenaz, com forma de pinça para agarrar lampreias, e para colher o concho, mexilhão de rio usado para armar outros aparelhos.







Os pescos, pesqueiras ou caneiros são uns muros construídos no leito do rio, inclinados seguindo a corrente e paralelos, formando corredores pelos que passa a água e os peixes. Nestes passos colocam o boitirão ao anoitecer, sendo desarmado cada duas horas se tem boa pesca. Esta rede foi o sistema mais empregado para colher a lampreia. A cabaceira, massoura e redeiro são muito semelhantes ao boitirão, colocadas nos pescos para capturar lampreias, salmões, sáveis e outros peixes. Também se empregam de noite, como a cangalha -armação tapezoidal com rede-, o sistema de rabudo e arca como obra de carpintaria, os arcos -estrutura semicircular de madeira- e os forcados -vara galhada- para caneiros.






A nassa é unha versão em madeira do boitirão, alongada, com trampa no meio, aberta por um lado e fechada pelo outro. Deitada no fundo do rio, com a boca de cara à corrente, amarrada entre pedras, levando no interior o isco. Colocada na noite, sendo retirada pela manhã. Uma variante é o gardeiro ou cacifro, que serve para manter fresco o peixe na água, colgado da barca. O redote já não é obra de cesteira, senão de cordas, fibras ou arame, deitado contra corrente para que entre a pesca (enguias e panchas) ao remontar o rio.







Redes rectangulares que emalhan o peixe são a lampreeira, a salmoeira e o aljerife, que se estende de sol a sol com a barca e recolhem tirando desde a terra. O mesmo sucede com outras artes de arrasto, como a rapeta. Para cercar, nas bocas dos rios e zonas de mareia, empregam a estacada ou cercote. Também a sacada é uma rede de cerco e arrasto. A solheira utilizada desde a barca, e a saveleira que deitam coa barca e recolhem desde terra, é muito semelhante à varredeira -rede de um só pano, que supera os trinta metros de comprimento, leva cortiças na parte superior, e chumbo na inferior, segmento com ocos pelos que entra o peixe no seio ou bolsa do fundo-. Os trasmalhos -três panos ou malhas, sendo mais entupida a interior, o que enreda o peixe- são também conhecidos nos rios do noroeste da península Ibérica. São redes de deriva, como a mugileira, com nomes que procedem da espécie à que estão destinados. E, a modo de esparavel, temos a chumbeira.




As barragens derrubaram as pesqueiras, e impediram a circulação de enguias, lampreias, sáveis, salmões, reos e trutas, o que não era só um bem material -complemento na economia, e distracção- para os ribeirãos, senão também um orgulho e modelo de harmonia com a natureza.


As embarcações fluviais só podem ser compreendidas no seu tempo e área, prestando serviço aos vizinhos das ribeiras. A pesca, como uma riqueza do nosso passado, não se pode esquecer por ser uma actividade que formou parte de uma cultura, dando respostas às necessidades humanas, criando aparelhos e até obras arquitectónicas que ao longo dos séculos se foram aperfeiçoando. A tecnologia tradicional deve ser conservada, pelo menos na lembrança.



Pesqueiras em Arbo
Artes de pesca dos rios

ILUSTRAÇÕES: CRISTINA OURO

TEXTO: BARCAS DO MINHO
Da fisga á chumbeira. Guía das artes de pesca fluvial, Lugo, 2008

XAQUÍN LORENZO FERNÁNDEZ
"Etnografía. Cultura material", em Historia de Galiza (dir. Otero Pedrayo, Ramón), Buenos Aires, 1962, vol. II



Barcas do Minho