No Noroeste da Península Ibérica abondam os cursos fluviais. Desaguam no Cantábrico rios de curta extensão -desde o Návia até o Sor-; na vertente Atlântica o percurso é maior,
tendo a foz no oceano -como o Eume, o Mandeo, o Tambre, o Ulha, o Lérez, e o Lima-, ou sendo subsidiários do sistema Minho-Sil -como o Bibei, Cabe, Arnoia e Avia-, e do Douro
-o Támega e o Mente-. Rios que facilitaram a propagação da vida natural (da que lembramos a riqueza de peixes autóctones), e que permitiram o desenvolvimento cultural dando resposta
a necessidades humanas (como a alimentação com a pesca, os usos da hidráulica, o transporte com barcas, o imaginario e o lazer).
Em comprimento e caudaloso, o rio maior do Noroeste ibérico é o Minho, complementado pelo Sil que aporta um fluxo hídrico semelhante.
A nascente está a uma altitude de 750 metros no Pedregal de Irímia, em Meira, e percorre mais de 300 quilómetros no meio de prados de pastos e cultivo dos vinhos da Ribeira Sacra, Ribeiro e Alvarinho, até desaguar no oceano Atlântico.
Em Wikipedia podem consultar anotações abertas sobre o rio Minho escritas em galego empregando grafia castelhana e na portuguesa.
A continuidade entre o fluvial e o marítimo precisa que os amadores da água salgada superem o desconhecimento dos rios. Em peixes que se deslocam -espécies anádromas e catádromas- tão valoradas como a enguia, a lampreia ou o salmão; nas mesmas artes de pesca -as de malha
documentadas como as marítimas cinco centos de anos atrás-; nas embarcações -que necessariamente foram experimentadas primeiro nos rios para depois fazer navegação costeira- como a chalana ou lancha, o carocho e a gamela; e na mitologia, onde as nossas sereias são xacias
e feiticeiras, e mesmo o São Telmo, patrão dos marinheiros, percorreu o Minho e está soterrado em Tui. Quando os rios chegam ao mar aportam mais que água.
Amar o mar é amar a alma de todos esses e muitos outros rios que desaguam nos oceanos as alegrias e mágoas dos povos que banham. É amar os povos que esses mesmos rios atravessam e alimentam corpo e espírito, e dão sinal de força viva que se renova a cada instante. Águas a correr pelo tempo, por córregos, por leitos e pelos espaços históricos desses povos de diferentes raças, hábitos e costumes, não obstante unidos pela mesmíssima raiz humana que os liga, que nos liga e nos iguala a todos nós.
Manoel de Oliveira
Rios que perderam a liberdade, mas fronte aos que pretendem esquecer, desde Barcas do Minho lembramos a riqueza da nossa pesca, oferecendo a mais completa mostra itinerante sobre a cultura fluvial, e recuperamos a navegação em barca. Com documentação própria, asseguramos a presença de embarcações em mais de trinta rios. Anotamos o Minho, Anlho, Támoga, Ladra, Parga,
Narla, Neira, Sárria, Asma, Avia e Arnoia; no Sil, Bibei e Cabe; no Lima, Búbal e Támega; no Návia, Eu, Masma, Ouro, Landro e Sor; e no Eume, Mandeo, Xalhas, Tambre, Ulha, Umia e Lérez. Na memória que estamos a transmitir os nossos rios seguem livres.